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10 de August de 2018
Neste artigo quero compartilhar alguns princípios para criar um arranjo musical. Não trataremos do assunto de forma profunda, pois é um assunto muito extenso e pode se tornar bem complexo se falarmos em orquestração. Mas a idéia é desenvolver alguns princípios úteis para o dia-a-dia das equipes de música das igrejas locais.
O arranjo musical é importante pois é a “roupagem” que colocaremos na canção, o que é de extrema importância se queremos transmitir a mensagem de forma adequada, fazendo uma boa comunicação com a congregação, e proporcionar uma ambientação musical capaz de fazer com que as pessoas se sintam confortáveis em cantar e encorajadas a oferecer louvores e ações de graça ao nosso Deus.
O primeiro passo para a elaboração de um arranjo é definir o estilo musical que se quer desenvolver, e este é um passo muito importante. Determinar o estilo talvez seja a parte mais importante, pois é com ele que iremos criar a primeira conexão com as pessoas. Creio que não existem estilos santos ou profanos, mas nos cabe utilizar da sabedoria e bom senso que o Espírito Santo nos concede para escolhermos estilos não baseados nas nossas preferências musicais, mas baseados em princípios do culto a Deus. Na definição do estilo também obtemos uma boa noção do que é legal e do que não é legal de se usar no arranjo de acordo com o estilo (ex: bases de guitarra com distorção numa bossa nova).
Definido o estilo, o próximo passo é estabelecer o número de instrumentos que serão utilizados de acordo com os músicos disponíveis. Sei que existem diferentes formações de músicos nas igrejas locais, algumas tem músicos de sobra, outras já com poucos. Veja o artigo que escrevi sobre este assunto: Ministrando com poucos recursos. A idéia então é construir um arranjo de acordo com as possibilidades do grupo.
Com estes dois itens definidos, podemos então caminhar um pouco mais.
Na concepção do arranjo pode-se manter a harmonia original, ou seja, a que o compositor utilizou ou rearmonizar a canção ou parte dela. Não importa a harmonia que se quer utilizar (embora ela deva estar de acordo com o estilo escolhido e também respeitar a congregacionalidade), o importante é que, escolhida a harmonia, todo o arranjo deve trilhar sobre ela. É importante lembrar que para o vocalista é necessário escolher a tonalidade que se adequá melhor à sua tessitura. Não se deve obrigar os cantores a cantar nas tonalidades das gravações originais, pois além de não ficar bonito e agradável de se ouvir ainda pode causar danos físicos às cordas vocais dos cantores.
Após a definição desses pontos é que se pode partir para o arranjo propriamente dito. A seguir alguns pontos a serem observados:
Estrutura
É necessário identificar as partes de uma canção como estrofe, refrão e ponte, e determinar quantas vezes estas partes serão executadas. A estrutura é importante tanto para a organização da canção, como para definir o tempo de duração da mesma, pois de acordo com tipo de reunião, ou o momento da reunião, isto se torna um ponto importante.
Ainda dentro da estrutura temos: Introdução, Interlúdio e Finalização. O Interlúdio é opcional, mas Introdução e Finalização não. Um bom começo causa uma boa impressão no ouvinte, mas principalmente, pensando no contexto congregacional, a introdução precisa deixar bem claro o andamento, a rítmica e a tonalidade para que todos. Um bom final deixa o ouvinte satisfeito e desejando ouvir novamente.
O Interlúdio geralmente é realizado com um solo de algum instrumento. Pode ser realizado com um solo escrito ou convenção utilizando vários ou todos os instrumentos. Utilizamos o Interlúdio para ligarmos um trecho a outro, para criar tensão ou relaxamento no decorrer da canção. Quero nesta parte deixar um conselho com o leitor; é preciso tomar cuidado para que esse interlúdio instrumental não se torne um momento de simples apresentação musical, como também não é o momento do músico extravasar suas aspirações musicais e sentimentais desconectando-se do propósito do culto.
Uma conexão entre arranjo e conteúdo literário é muito importante para a transmissão de idéias e mensagens. Logo, o arranjo tem ter coerência musical com o que a letra quer dizer. Por exemplo, cantarmos uma canção de celebração num arranjo com tonalidade menor e andamento lento fica de certo modo contraditório, bem como cantar uma canção de confissão e quebrantamento num arranjo com andamento acelerado, com forte intensidade e festivo. É claro que este é um ponto a ser observado desde a composição.
Distribuição de papéis
É necessário definir quem vai fazer o quê dentro do arranjo. Em primeiro lugar estabelecer a linha de baixo e bateria (baseando-se num grupo musical convencional), pois pertencem à seção rítmica (outros instrumentos podem contribuir à seção rítmica como guitarra, percussão, etc). A linha de baixo é importante pois faz a conexão entre as seções rítmicas e harmônicas.
A seguir, definir a seção harmônica que pode ser formada por instrumentos harmônicos ou por um grupo de instrumentos melódicos (ex: quarteto de cordas, naipes de metais ou vocal).
Pode-se ter outros instrumentos responsáveis pelos efeitos, que podem gerar um clima específico ou “colorir” o arranjo. Instrumentos que cumprem bem este papel é a guitarra e o teclado, pois eles têm a capacidade de variar os efeitos.
Outra possibilidade que possuímos é o contraponto, que é a arte de sobrepor uma melodia a outra. O contraponto pode ser executado por um ou vários instrumentos melódicos. É um recurso que pode ser bem explorado, mas é necessária muita cautela ao criá-lo e executa-lo. O contraponto não pode “brigar” com a melodia principal, mas apenas “passear” em volta da melodia criando um movimento, porém nunca esquecendo-se da harmonia pré-determinada.
Clareza
Muitas vezes ao elaborar um arranjo, várias idéias surgem e nossa vontade é utilizar todas elas, porém é preciso sempre ter em mente que todas as informações contidas na canção devem ser “digeridas” pelo ouvinte. Portanto, utilizar-se de vários tipos de idéias e instrumentação pode “poluir” e deixar a música cansativa, e o objetivo de termos toda a congregação cantando com entusiamo se perde.
Podemos então estabelecer que a ferramenta mais importante que um arranjador deve possuir depois da criatividade é o bom senso e o bom gosto.
Estes são apenas alguns princípios. Como foi escrito no começo, o campo da construção de arranjos pode ser muito aprofundado e explorado. Com estes simples princípios podemos desenvolver a arte da concepção de arranjo e abençoar a nossa igreja local, e fazer do momento da adoração com música em nossos cultos uma experiência edificante.